O surto de Mpox em África continua a se intensificar, com quase 23.000 casos oficialmente registrados em 13 países até o momento. As crianças estão entre os grupos mais afetados, representando uma parcela significativa dos casos e mortes. Segundo a autoridade de saúde da África, o CDC África, entre o início do ano e 26 de agosto, foram reportados 22.863 casos, dos quais 19.222 são suspeitos e 3.641 foram confirmados laboratorialmente. O número de mortes é de 622, resultando numa taxa de mortalidade de aproximadamente 2%, uma leve redução em comparação com os dados anteriores.
Confusão Diagnóstica e Desafios na Detecção do Mpox
Dimie Ogoina, professor de doenças infecciosas da Universidade do Delta do Níger, na Nigéria, ressaltou a possibilidade de outros tipos de infecção serem confundidos com o Mpox. Em muitos casos, doenças como a varicela podem ser erroneamente diagnosticadas como Mpox devido a semelhanças nas manifestações cutâneas. Além disso, há relatos de pais que não levam seus filhos para as clínicas, presumindo que se trata apenas de varicela. Esses desafios diagnósticos podem estar mascarando a real extensão do surto e dificultando os esforços para controlá-lo.
Impacto em Crianças e Fatores Contribuintes
As crianças, especialmente as menores de cinco anos, são as mais vulneráveis e representam a maioria das vítimas fatais. Muitos dos óbitos estão relacionados a complicações como pneumonia, que podem ser agravadas por coinfecções com malária, sarampo ou desnutrição. A situação é particularmente crítica na República Democrática do Congo, epicentro do surto, onde muitas crianças mais velhas cuidam das mais novas enquanto os pais trabalham, aumentando a exposição ao vírus.
Respostas Médicas e Falta de Recursos
O tratamento nas clínicas africanas tem sido limitado, focando principalmente em cuidados de suporte, como hidratação e ventilação mecânica, devido à falta de medicamentos adequados. A sepse é uma causa frequente de morte, especialmente em pacientes cujas lesões cutâneas infeccionam gravemente. Placide Mbala-Kingeni, chefe de epidemiologia na Universidade de Kinshasa, destacou a escassez crítica de vacinas, que impede a implementação de uma campanha de vacinação em massa para os grupos de alto risco, como crianças, grávidas, pessoas com HIV e profissionais do sexo.
Proposta de Estratégia de Vacinação em Anel
Mbala-Kingeni sugere a adoção de uma estratégia de "vacinação em anel", similar à utilizada para conter surtos de Ébola, como uma resposta emergencial à falta de vacinas. Esta abordagem envolve a vacinação de contatos diretos dos casos conhecidos e seus contatos, para prevenir a propagação do vírus. No entanto, Dimie Ogoina aponta para a complexidade de desenvolver uma estratégia de vacinação eficaz devido às lacunas no entendimento das formas de transmissão do Mpox, que muitas vezes ocorre sem conexão aparente com casos existentes.
Necessidade de Ações Urgentes e Coordenação Internacional
Atualmente, o Mpox está presente em 13 países da União Africana, incluindo Burundi, Camarões, República Centro-Africana, República do Congo, Costa do Marfim, República Democrática do Congo, Gabão, Libéria, Quênia, Nigéria, Ruanda, África do Sul e Uganda. Devido à capacidade laboratorial limitada, ainda não está claro quanto do surto é atribuído a uma nova e mais agressiva variante do vírus, conhecida como clado Ib.
O CDC África enfatiza que a transmissão do Mpox ocorre predominantemente através de gotículas respiratórias, contato direto prolongado, lesões cutâneas e superfícies contaminadas, além da transmissão sexual. Com o número de infecções crescendo e o impacto devastador sobre as crianças, é crucial que os esforços de resposta ao surto sejam intensificados, com maior apoio internacional e coordenação para combater essa crise de saúde pública emergente.
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